sábado, dezembro 23, 2006


"Para que a encarnação de Jesus Cristo seja o modelo
de todo autêntico esforço de inculturação do Evangelho”

João Paulo II

sábado, dezembro 16, 2006

MARANATHA

sábado, dezembro 02, 2006

Ó homem, é a ti que te entrego toda a minha vida!

terça-feira, novembro 28, 2006


Um MUNDO nas mãos

quarta-feira, novembro 15, 2006

ABORTO
«Antes de te haver formado no ventre materno,
Eu já te conhecia;
antes que saísses do seio de tua mãe,
Eu te consagrei e te constituí
profeta das nações» (Jer 1, 5)
Assistimos hodiernamente a uma tendência e a um fenómeno nada animadores no que concerne à vida humana. Não sendo unicamente exclusiva do homem, a vida define o próprio homem, na sua dignidade, na sua responsabilidade, no drama da sua existência e no horizonte da sua esperança. Ela é, sem margem para dúvidas, o seu dom mais precioso. A vida é, com efeito, «uma realidade sagrada que nos é confiada para a guardarmos com sentido de responsabilidade a levarmos à perfeição, no amor, pelo dom de nós mesmos a Deus e aos irmãos» (Evangelium Vitae, 2).
Toda a nossa vida é participação divina. Na verdade, o homem é-o por ter, ou seja, a sustentabilidade ôntica da essência humana reside na e pela participação na essência divina, nesse esse trinitário. O homem é um ser pessoal existencial porque Deus lhe inflamou a vida, mediante o seu sopro (sopro da vida) tornou-o vivo. Daí que o homem tenha a vida e não seja ele próprio a vida. A vida torna-se no primeiro dom de Deus, dom absolutamente puro. Nesse sentido, o respeito pela vida ganha uma dimensão religiosa, e constitui uma mensagem gravada no coração de cada homem, tornando-se lei natural e universal. Mas quem reconhece Deus como fonte da vida, consciencializa-se que qualquer agressão contra ela magoa o coração de Deus e por isso, o respeito pela vida torna-se parte integrante do Decálogo: Não matarás (Ex 20, 13). Este dom, portanto, atinge a sua expressão máxima em Cristo Jesus: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10, 10). Desta expressão máxima de Cristo ressalta um imperativo que, aludindo explicitamente, indica e comunica que «não matarás o embrião por meio do aborto, nem farás que morra o recém-nascido» (Didaké 2, 2).
Será que a defesa da vida é uma tarefa exclusiva dos cristãos? A vida humana, mesmo em gestação, é um bem de primeira ordem, cuja defesa se impõe originariamente à consciência de toda a pessoa responsável, independentemente das suas convicções éticas ou religiosas. É, pois, um sofisma e um sintoma de imaturidade moral e cívica o que se passa na actual problemática do refendo, em querer encurralar as opiniões e o sentido do voto em alinhamento com as convicções religiosas ou laicas do eleitorado. A defesa da vida é, portanto, um problema religioso, como também um problema humano que diz respeito a toda a sociedade.
Em nome da liberdade e da consciência, toda a pessoa pode, no foro privado, defender responsavelmente as ideias sobre o sentido do mundo e as opções correspondentes, sem interferência de ninguém. Outro tanto não acontece no que toca ao espaço público. Chegou-se ao extremo de certa mulher ridículo afirmar, sem pudor e ressentimento, na praça pública que tinha feito sete abortos!
Será o aborto um direito da mulher? É inquestionável que a mulher é, em certa medida, protagonista principal, embora não única, uma vez que a decisão é sua e é ela que lhe confere as consequências. Contudo, o aborto não é redutível a uma afirmação dos direitos da mulher, no direito ao que se passa no seu corpo. Desta forma, umas das primeiras manifestações da maternidade é o reconhecimento, pela mãe, da alteridade ôntica do seu filho. Por outras palavras não é mais do que reconhecer que traz no seu seio outra pessoa, em relação à qual, além dos deveres específicos de mãe, tem os mesmos deveres que qualquer indivíduo tem perante a vida de outrem. O ser que tem dentro de si é em potência toda a pessoalidade a ele inerente.
O drama do aborto é um drama antigo (basta ver Ex 21, 22). Tal como outras manifestações de violência e de desrespeito pela vida do outro, o drama do aborto coexiste com a dignidade da vida, sobretudo com a grandeza do dom de a poder comunicar. Devemos, portanto, renunciar por completo a tudo aquilo que considere o aborto como um direito da mulher-mãe.
Temos que contradizer a sociedade, pois nós pensamos, em nome do carácter sagrado da vida e da própria dignidade da mulher, que a legalização não é o caminho. Nunca se poderá construir uma sociedade justa sobre a injustiça. Por meio de uma linguagem kantiana, o nosso agir deve ser tomado como modelo para aqueles que nos rodeiam nos diversos momentos, nunca esquecendo a estrita união entre o cristão e Igreja. Antes de qualquer lei civil ou até mesmo religiosa está, como fundamento e alicerce, a lei natural. Com efeito, em momento algum podemos esquecer que a vida é o primeiro valor e fundamento da ética dada à sua primordial ligação quer à lei natural, quer sobretudo a Deus, seu criador. Pois, «a glória de Deus é que o homem viva» (Santo Ireneu).

terça-feira, outubro 31, 2006


Sentido e valor da Velhice
O que é a velhice? Às vezes fala-se dela como do Outono da vida, seguindo a analogia sugerida pelas estações e pelo andamento das fases da natureza. Basta olhar, ao longo do ano, para a mudança da paisagem nas montanhas e nas planícies, nos prados, nos vales, nos bosques, nas árvores e nas plantas. Há uma estreita semelhança entre o biorritmo do homem e os ciclos da natureza, à qual ele pertence.
Porém, o homem, por sua vez, distingue-se de toda a realidade que o circunda, porque é pessoa. Plasmado à imagem e semelhança de Deus, ele é sujeito consciente e responsável
[1]. “O homem permanece sempre criado à «imagem de Deus»[2], e cada idade possui a sua beleza e missão. Mais, a idade avançada encontra na palavra de Deus uma grande consideração, a tal ponto que a longevidade é vista como sinal da benevolência divina”[3].
As expectativas duma longevidade vivida em condições de melhor saúde em relação ao passado, a perspectiva de poder cultivar interesses ligados a um nível mais elevado de instrução das pessoas, o facto de a velhice já não ser sempre sinónimo de dependência e de, portanto, nem sempre significar perda da qualidade de vida, não parecem ser suficientes para levar à aceitação um período da existência que muitos dos nossos contemporâneos vêem exclusivamente como dura e inevitável fatalidade.
Com efeito, está hoje muito difundida a imagem da terceira idade como fase de declínio, em que a insuficiência humana e social é dada como certa. Trata-se, porém, dum estereótipo que não corresponde à sua condição. Há uma certa categoria de pessoas que, “sendo capazes de apreender o seu significado, no arco da existência humana, não só a vivem de forma serena e digna, mas com uma fase da vida que oferece novas oportunidades de crescimento e empenhamento. E há outra categoria – que nos nossos dias é, precisamente, muito numerosa – para a qual a velhice constitui um trauma. Trata-se de pessoas que, face ao próprio envelhecimento, assumem atitudes que vão da resignação passiva, à rebelião e recusa desesperada”
[4]. São pessoas que, fechando-se em si mesmas, e colocando-se a si mesmas à margem da vida, activam o processo da sua degradação física e mental.
Nesse sentido, a velhice cresce connosco. E a qualidade da nossa velhice dependerá, sobretudo, da nossa capacidade de apreender o seu sentido e valor, quer no plano puramente humano, quer no plano da fé. É necessário, por isso, “situar a velhice num desígnio preciso de Deus, que é amor, vivendo-a como uma etapa do caminho através do qual Cristo nos conduz para a casa do Pai
[5]. Só à luz da fé, fortalecidos pela esperança que não decepciona[6], seremos efectivamente capazes de a viver como dom e como missão, de forma verdadeiramente cristã”[7].
A construção da desejada sociedade de múltiplas gerações só resultará se tiver, por fundamento, o respeito pela vida, em todas as suas fases. A presença de tantos anciãos no mundo contemporâneo é um dom, uma nova riqueza humana e espiritual.
O contributo de experiência que os anciãos que podem dar ao processo de humanização da nossa sociedade e da nossa cultura é mais do que nunca precioso e necessário, valorizando aqueles aspectos que poderemos definir como carismas da velhice, a saber:
a) A gratuidade – a cultura dominante ignora esta dimensão;
b) A memória – as gerações mais novas vão perdendo o sentido da história e, com isso, a própria identidade. Uma sociedade que ignora o passado, corre o risco de repetir mais facilmente os seus erros. A perda do sentido histórico também é imputável a um sistema de vida que afastou e isolou os anciãos, impedindo o diálogo entre gerações;
c) A experiência – hoje vivemos num mundo em que as respostas da ciência e da técnica parecem ter suplantado a utilidade d experiência de vida acumulada pelos anciões ao longo de toda a sua existência;
d) A interdependência – ninguém pode viver sozinho. Os anciãos, com a sua busca de companhia, contestam uma sociedade na qual os mais débeis são muitas vezes abandonados a si próprios, chamando a atenção para a natureza social do homem e para a necessidade de restabelecer as redes de relações interpessoais e sociais.
e) Uma visão mais completa da vida – a terceira idade é também a idade da simplicidade e da contemplação. Os valores afectivos, morais e religiosos vividos pelos anciãos são um recurso indispensável para o equilíbrio das sociedades, das famílias e das pessoas. O ancião apreende bem a superioridade do «ser» em relação ao «fazer» e ao «ter»
[8].
Deste modo, as sociedades humanas serão melhores, se souberem tirar partido dos carismas da velhice.
______________________________________________________
[1] Cf. PAULO II, João – Carta do Papa aos Anciãos, Ed. Paulinas, Lisboa, 1999, nº 5.
[2] Cf. Gn 1, 26.
[3] PAULO II, João – Carta do Papa aos Anciãos, Ed. Paulinas, Lisboa, 1999, nº 6;
Cf. Gn 11, 10-32.
[4] Conselho Pontifício para os Leigos – A dignidade o Ancião e a sua missão na Igreja e no mundo, Ed. Paulinas, Lisboa, 1999, p. 11.
[5] Cf. Jo 14, 2.
[6] Cf. Rm 5, 5.
[7] Conselho Pontifício para os Leigos – A dignidade o Ancião e a sua missão na Igreja e no mundo, Ed. Paulinas, Lisboa, 1999, p. 12.
[8] Cf. Conselho Pontifício para os Leigos – A dignidade o Ancião e a sua missão na Igreja e no mundo, Ed. Paulinas, Lisboa, 1999, pp. 13-15.