terça-feira, setembro 23, 2008

O Estado: ao serviço da vocação?


Pergunta pertinente, sem dúvida. De facto, este é o grande drama do nosso tempo. Sendo a vocação uma realidade constitutiva à pessoa humana e um chamamento de Deus, torna-se necessário que cada pessoa humana individualmente encontre aquilo a que é chamado a ser. Pois a vocação conduz-nos à felicidade e à nossa mais íntima realização. Onde está a nossa vocação está igualmente a nossa felicidade, e vice-versa.
Nesse sentido, compete ao Estado, como entidade promotora da vocação, criar espaços não só de reflexão pessoal sobre a vocação do cada cidadão, como também proporcionar que cada cidadão se realize na sua vocação. Para tal, é urgente que cada um possa exercer a nível profissional aquilo a que é ontologicamente chamado a ser e a realizar. É este o papel do Estado: proporcionar e possibilitar que cada cidadão encontre e exerça a sua vocação, de modo a que este se sinta plenamente realizado e, consequentemente, encontre felicidade.
Infelizmente, verificamos que inúmeros cidadãos que não são felizes. Não o são por uma simples razão: não encontraram ou não exercem a sua vocação. E quando assim é, estes cidadãos não só não produzem como também não se realizam plenamente como seres humanos em comunidade. Por exemplo, se eu me sinto vocacionado para ser professor de matemática, mas por razoes externas sou como que obrigado a ser professor de história, certamente eu não renderei o mesmo caso ensinasse matemática. É aqui que o Estado deve actuar. Antes de o aluno entrar na Universidade, o Estado deveria fazer, juntamente com os alunos em causa, um discernimento vocacional de modo que cada um pudesse ser realmente feliz. E, em termos económicos, estes cidadãos renderiam bem mais. Fica a questão: será que o Estado e o nosso sistema educativo escolar estão ao serviço da vocação?

Somos testemunhas de quê?


Somos testemunhas de quê?
O ardor missionário de S. Paulo



A partir da proposta do Papa Bento XVI que proclamou este ano um “Ano Paulino”, para celebrar os 2000 anos do nascimento de São Paulo, torna-se conveniente abordarmos o imperativo missionário que todo o baptizado é chamado a realizar em Igreja. Em virtude do Baptismo, todo o fiel leigo é vocacionado e chamado à missão. Em Paulo todos nós encontramos um modelo missionário que foi capaz, em virtude/sob da acção do Espírito Santo, de alargar o horizonte dos destinatários do Evangelho. Quando o Evangelho chega ao mundo greco-romano, igualmente conhecido pelo povo judeu como mundo pagão ou gentios, a Igreja primitiva é abalada por uma onda de questões que giram em torno do seguimento ou não dos preceitos do judaísmo: será que a Boa Nova dirigia-se somente ao povo judeu ou será que os pagãos também seriam destinatários desta Boa Nova?
Um judeu convertido a Jesus Cristo deveria sujeitar-se à circuncisão e obedecer às normas legais do povo judaico? Ou será que um pagão convertido, que passa a pertencer de imediato ao Povo de Deus, deve obedecer às leis especificamente judaicas?
Este alargamento do horizonte missionário foi-nos desafiado pelo saudoso Papa João Paulo II, à qual chama de nova evangelização. Hodiernamente a Igreja corre o risco de reduzir o seu campo de acção pastoral e missionário e limitar o anúncio da Boa Nova, de Jesus Cristo, àqueles que continuam no seu redil. É sempre mais fácil trabalhar com aqueles que entendem a nossa linguagem, que estão sempre disponíveis para nos ouvirem e para cooperarem connosco. Mas que sentido apostólico e missionário é este? Na verdade, não é nenhum. É necessário desinstalarmo-nos: necessitamos de renovar e de alargar do nosso horizonte. Parece que os nossos cristãos têm medo ou até alguma dificuldade em anunciar Jesus Cristo a uma sociedade cada mais secularizada e indiferente. A sociedade actual, apesar de haver uma separação cronológica e histórica, contém inúmeras coincidências e traços comuns: ambas estão marcadas por uma religiosidade cada vez mais pagã do que cristã; uma superstição que conduz a fanatismos religiosos e à ausência ôntica de Deus na vida pessoal de cada um e de cada um em comunidade; estão profundamente marcadas pelo hedonismo e pelo materialismo, “reduzindo o problema de Deus ao arbítrio e à decisão humana, fiel a ritos, mas incapaz de reconhecer o Deus vivo e transcendente” (CEP, nº2, 2008). Porém, em ambas as realidades sociais existem sintomas de insatisfação, que poderão levar renovação vivificante propícia do Evangelho.
Nesse sentido, torna-se urgente alargar o anúncio do Evangelho aos descrentes e aos que abandonaram a vida cristã. Para tal é inevitável que haja evangelizadores com as características exigidas pela nova evangelização. Devem estar como que possuídos de um novo ardor, uma vez que o seu testemunho é um primeiro anúncio de natureza querigmática. Cada um de nós deve testemunhar aquilo que ama: se eu amo verdadeiramente Cristo, então o meu testemunho será expressão do rosto de Jesus Cristo; se eu não amo Cristo, então o meu testemunho é uma autêntica falácia daquilo que eu procuro apresentar como verdade – estaremos sempre dentro do campo do “acessório” e da imagem. O esquecimento do “ser” e a valorização excessiva do ter – evidente realidade da sociedade actual – conduz ao esvaziamento ôntico da vida humana, bem como a uma depreciação dos valores éticos e morais. Aliás, se repararmos com atenção, hoje poucas pessoas ou até nenhumas introduzem no seu vocabulário corrente o termo “virtude”. Parece que é preferível dizer “porreiro”, ou “espectacular” ou ainda “fixe”. É evidente a mutação filiológica com que nos deparamos. O homem de hoje dá a entender que não quer ser um ser virtuoso, de princípios e bases sólidas e estáveis. Tudo que implique mudança, compromisso e desinstalação as pessoas rejeitam. A razão é simples: estes três termos atrás mencionados obrigam as pessoas e crescerem, a saírem dos seus “cantinhos” e “mundinhos”, a sofrerem para depois colher. A palavra “sofrer” deve ser aqui entendida no sentido de que cada coisa, como por exemplo toda a caminhada que o pão faz para chegar às nossas mesas, tem o seu ritmo natural de crescimento e que implica trabalho, esforço e até bastante sofrimento para que essa coisa possa ser uma realidade. Daí que, todo o cristão não pode pensar que evangelizar é uma realidade fácil. Antes de evangelizarmos temos que nos deixar livremente ser inundados pelo Evangelho, ser absorvidos e apaixonados por Cristo Jesus. Por isso, e como atesta a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), “evangelizar não é uma estratégia e não se reduz a um programa: é uma paixão de amor por Jesus Cristo e pelos nossos irmãos e irmãs”.
Na verdade, só quem se converte real e verdadeiramente a Jesus Cristo é que pode ser evangelizador. Esta é a certeza e o imperativo máximo do processo evangelizador. É imprescindível que nós nos deixemos tocar por Cristo. Sem Ele qualquer acção é oca e vazia. A exemplo de S. Paulo, cada um de nós é chamado a deixar-se a possuir por Jesus Cristo de modo a poder cooperar activa, frutuosa e conscientemente no anúncio do Evangelho.
Fica a pergunta: somos testemunhas de quê? De mim mesmo ou de Deus?

Que tranquilidade?!


Pergunta pertinente, sem dúvida. De facto, este é o grande drama do nosso tempo. Sendo a vocação uma realidade constitutiva à pessoa humana e um chamamento de Deus, torna-se necessário que cada pessoa humana individualmente encontre aquilo a que é chamado a ser. Pois a vocação conduz-nos à felicidade e à nossa mais íntima realização. Onde está a nossa vocação está igualmente a nossa felicidade, e vice-versa.
Nesse sentido, compete ao Estado, como entidade promotora da vocação, criar espaços não só de reflexão pessoal sobre a vocação do cada cidadão, como também proporcionar que cada cidadão se realize na sua vocação. Para tal, é urgente que cada um possa exercer a nível profissional aquilo a que é ontologicamente chamado a ser e a realizar. É este o papel do Estado: proporcionar e possibilitar que cada cidadão encontre e exerça a sua vocação, de modo a que este se sinta plenamente realizado e, consequentemente, encontre felicidade.
Infelizmente, verificamos que inúmeros cidadãos que não são felizes. Não o são por uma simples razão: não encontraram ou não exercem a sua vocação. E quando assim é, estes cidadãos não só não produzem como também não se realizam plenamente como seres humanos em comunidade. Por exemplo, se eu me sinto vocacionado para ser professor de matemática, mas por razoes externas sou como que obrigado a ser professor de história, certamente eu não renderei o mesmo caso ensinasse matemática. É aqui que o Estado deve actuar. Antes de o aluno entrar na Universidade, o Estado deveria fazer, juntamente com os alunos em causa, um discernimento vocacional de modo que cada um pudesse ser realmente feliz. E, em termos económicos, estes cidadãos renderiam bem mais. Fica a questão: será que o Estado e o nosso sistema educativo escolar estão ao serviço da vocação?