segunda-feira, outubro 27, 2008

Num último suspiro...


«Uma amizade que, no início, parecia promissora e vivificante fez que, pouco a pouco, me afastasse mais e mais do lar, até ficar completamente obcecado. Do ponto de vista espiritual, vi que, para manter viva aquela amizade, estava a dissipar tudo o que recebera do meu Pai. Já não era capaz de rezar. Perdi o interesse pelo meu trabalho e cada vez me era mais difícil atender os problemas dos outros. Apesar de dar conta de quão destrutivos eram os meus pensamentos e os meus actos, continuava escravo do meu coração, faminto de amor e à procura de falsos caminhos para conseguir a minha própria auto-estima.
Então, quando aquela amizade se quebrou definitivamente, tive que escolher entre destruir-me e acreditar que o amor que procurava existia realmente…” em casa”! Uma voz, uma voz muito débil, sussurrou-me que nunca nenhum ser humano seria capaz de me dar o amor que procurava […]. Aquela voz suave, mais insistentemente, falou-me da minha vocação, dos meus primeiros compromissos, dos muitos dons que recebi na casa do meu Pai. Aquela voz chamou-me “filho”.
A angústia do abandono foi tão forte que me era muito difícil, quase impossível, acreditar nessa voz […]. Por fim, fui para um local para onde pudesse estar sozinho. Ali, na solidão, comecei a caminhar para casa, lentamente, hesitante, ouvindo cada vez mais nitidamente a voz que dizia: “Tu és o meu filho muito amado; em Ti pus todo o meu enlevo”».

Henri Nouwen

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