segunda-feira, janeiro 29, 2007

A lição da prostituta

«Nunca as mulheres tiveram tantos recursos para evitar a gravidez. Em matéria de pílulas, dispõem da clássica pílula diária, da pílula do dia seguinte, que se toma como quem chama o 115, e, agora, um cartucho delas para rilhar em dois dias e cujo efeito é o de um autoclismo com descarga no útero.
O dispositivo intra-uterino (DIU) não permite que o óvulo fecundado se fixe nas paredes do útero. O velho e aperfeiçoado preservativo, à disposição em todas as esquinas, anda na carteira com a mesma naturalidade do baton e do espelhinho. O diafragma, colocado no colo do útero, é uma boa partida ao espermatozóide. De tanto marrar, à procura do caminho que a natureza lhe ensinou, acaba por desistri e morrer. Há ainda os cremes vaginais que, além espermicidas, não permitem que o espermatozóide dê à cauda para se deslocar. O aberrante coito interrompido é desagradável, mas resulta…
Com esta e diversa artilharia apontada à gravidez, um feto que consiga escapar é um verdadeiro herói. E como herói deve ser tratado. Não é justo que alguém o expulse do útero a que já se tinha aconchegado para viver. Chega a ser cruel sair dele aos bocadinhos na ponta de uma cureta e amontoado numa cuvete como carne picada.
É de aceitar que uma rapariga, ou mulher, violada possa recorrer ao aborto. É preferível a repulsa de uns minutos à repulsa de uma vida inteira.
Também se aceita o aborto, quando uma série de ecografias afirmam grandes deformidades do feto. Deixá-lo nascer, será condenar uma criança, um adulto e um velho a uma vida de limitações físicas, perturbadoras do carácter e do comportamento psicológico.


Sempre que regresso a este assunto, me lembro da Fifas, uma prostituta muito popular no meu tempo de Coimbra. Oferecia-se no nº 13 do Terreiro de Erva. A certa altura, apareceu grávida. Pelos inconvenientes que uma gravidez trazia à sua profissão, julgou-se que a Fifas iria abortar. De cara um pouco torcida, levou a gravidez até ao fim.
Na maternidade foi partejada pelo Prof. Ibárico Nogueira, assistido pelos quintanistas de seu turno. Eu era um desses quintanistas.
Mas quando foi preciso dar umas palmadas no recém-nascido para o reanimar, a Fifas mudou de expressão e de voz para nos pedir com maior ternura:
- Não batam no meu menino…»
[1].


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[1] Camilo de Araújo Correia (Médico), In, Diário do Minho.

2 comentários:

Maria João disse...

Estes exemplos é que deveriam ser mostrados...na televisão.

Padre Vítor Magalhães disse...

Interessante esta reflexão.