sábado, janeiro 27, 2007

A sociedade censura a morte

Para os homens ‘modernos’, a morte deverá ser a grande ausente e não encontrará espaço no horizonte do pensamento humano: é proibido (ou, na melhor das hipóteses, permitido somente ao homem arcaico) tomar consciência da morte em termos pessoais; somente através da morte-espectáculo, diariamente apresentada pelos media, é que será possível uma eventual tomada de consciência da realidade da morte, embora ela permanece como morte dos “outros”, estranhos, distantes de nós tanto geográfica quanto afectivamente[1].

A vivência da morte na cultura de hoje:
As sociedades do ocidente europeu passaram por um processo de uniformização das suas formas de considerar a morte. A morte, rodeada dum ambiente de mistério, com referência religiosa imediata, sofreu um diluimento social significativo. A atenção social para com a morte desviou-se do registo do «tremendum» e deslocou-se para um espaço de «invisibilidade social»[2].
Resta nos ambientes rurais, a qual persiste em usar a morte para exprimir a radicalidade de certos sentimentos. A solidariedade ocasionada noutros tempos por ocasião da morte, tem hoje a brevidade de um cumprimento formal; a memória do defunto avivada por calendário ritual, recolheu-se ao íntimo dos familiares e amigos.


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[1] Em relação a este assunto o Papa João Paulo II na Evangelium Vitae, nº 64, diz-nos: «Num tal contexto, torna-se cada vez mais forte a tentação da eutanásia, isto é, de apoderar-se da morte, provocando-a antes do tempo e, deste modo, pondo fim «docemente» à vida própria ou alheia. Na realidade, aquilo que poderia parecer lógico e humano, quando visto em profundidade, apresenta-se absurdo e desumano. Estamos aqui perante um dos sintomas mais alarmantes da «cultura de morte» que avança sobretudo nas sociedades do bem-estar, caracterizadas por uma mentalidade eficientista que faz aparecer demasiadamente gravoso e insuportável o número crescente das pessoas idosas e debilitadas. Com muita frequência, estas acabam por ser isoladas da família e da sociedade, organizada quase exclusivamente sobre a base de critérios de eficiência produtiva, segundo os quais uma vida irremediavelmente incapaz não tem mais qualquer valor».
[2] CUNHA, Jorge Teixeira da – Bioética Breve, Ed. Paulus, Apelação, 2002, p. 102.

1 comentário:

Padre Vítor Magalhães disse...

Uma grande Carta que João Paulo II escreveu,... "evangelium vitae"