sábado, abril 05, 2008

Homilia III Domingo Páscoa


A Palavra de Deus deste domingo apresenta-nos Cristo a Luz dos caminhos, o pedagogo da fé. Ao lermos atentamente o Evangelho, depressa uma questão nos é provocada: por que não reconheceram eles, neste viajante, a pessoa de Jesus? Note-se que no texto não se diz que Jesus estava dissimulado sob outra aparência, mas que «os seus olhos eram incapazes de O reconhecerem», e será importante determinar o motivo desta cegueira.
Se repararmos atentamente apercebemo-nos que os discípulos estavam tristes, desanimados e desalentados. Tinham depositado em Jesus todas as suas esperanças. Isto é um claro e evidente sinal de que quem não está em Deus anda triste, angustiado e completamente desanimado. No entanto estes discípulos foram incapazes de compreender o porquê da morte de Jesus! Sabeis porquê? Nesta época os judeus pensavam que o Messias seria um grande rei e que destronaria o poder vigente. Era o denominado messianismo real. A par dos discípulos de Emaús, o próprio Judas tinha esta mesma ideia. Mas rapidamente se apercebe que o Messias não traz a desordem e a guerra, mas antes o amor e a misericórdia.
Por isso eles deixam a comunidade e vão para as suas terras. É este desalento que os acompanha. Eles abandonam a comunidade. Incapazes de crerem nas palavras das mulheres e de Pedro quando afirmam que Jesus havia retornado dos mortos, vão-se embora angustiados. Vede como eles eram incrédulos e «sem inteligência e lentos de espírito». O abandono da comunidade é o maior erro que qualquer crente pode cometer! Mas isto acontece com alguma frequência. E é interessante verificar que o escritor sagrado introduz em cena Jesus Cristo, apresentando-o como um mero caminhante. Ao iniciarem o diálogo, os discípulos de Emaús ficam admirados como é que aquele caminhante não sabia o que acontecera em Jerusalém. E é neste momento que Jesus assume-se como o único e verdadeiro Pedagogo. Ensinar-lhes-á toda a Escritura, mas mesmo assim eles continuam com cegos. Quantas vezes nós estamos cegos, apesar de ouvirmos a Palavra de Deus todos os domingos?
Esta cegueira é fruto de uma ilusória criação intelectual, ou seja, digamos que se deve a uma esperança construída sob a razão humana. Por isso andam angustiados e desalentados. Ausência de Deus é ausência da alegria e da felicidade. Porém, Deus não nos abandona como presas indefesas perante os dentes do predador. Ele acompanha-nos nesta caminhada de forma pedagógica: vai-nos gradualmente abrindo os olhos de modo a podermos reencontrar a felicidade e alegria. Daí que toda a caminhada é revelação. Todos os nossos caminhos são acompanhados por Deus. Nós somos como um copo onde Deus o vai enchendo-o; quando transborda entramos na cegueira e no mistério. Mas pela fé, e nunca pela razão, penetramos neste mistério de amor.
Quando os seus olhos descobrem Jesus, imediatamente pedem a Jesus que fique com eles. Apercebem-se que é Ele quando parte o pão: é a redescoberta da gratuidade e do dom. Reconhecer Jesus nos irmãos é fruto da doação de mim mesmo. Na medida em que eu partilho, eu encontro no irmão o rosto do Cristo ressuscitado. E ao reencontrar Jesus eu simplesmente retorno à comunidade, para celebrar a Eucaristia, celebrar a Páscoa.

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