quinta-feira, abril 10, 2008

O homem: um ser vocacionado no Amor para o Amor


Todos na Igreja recebem uma vocação. Por isso, a Igreja convida-nos a viver intensamente esta Semana de Oração pelas Vocações. Falemos um pouco sobre o sentido e significado desta bela palavra.
A vocação, como realidade unitária na sua essência, não é uma realidade extrínseca ao homem e ao seu projecto de vida. Ela é antes um dom de Deus ao homem. Um dom que provém da bondade infinita e totalizante de Deus Uno-Trino. Mas o que é realmente a vocação? O que é ser vocacionado? O termo “vocação” provém do vocábulo latino “vocatione” que significa «o acto de ser chamado ou predestinado para um determinado fim; inclinação e predisposição para certo género de vida, profissão, estudo ou arte; tendência, talento». Portanto, a vocação é o acto amoroso de Alguém que chama o homem para a felicidade e para a sua plena e total realização. Esse Alguém é Deus. Nesse sentido, a vocação é um chamamento. Perante tal convite apenas duas são as respostas possíveis: ou sim ou não. Deus concede-nos a liberdade e é incapaz de ir contra a liberdade do homem. Pois se o fizesse estaria a negar-Se a Si mesmo. Nós, perante tal convite teremos de tomar uma decisão que traz consigo consequências: quer digamos sim, quer digamos não, esta decisão determinará o decorrer de toda a nossa vida e terá naturais implicações na conduta dos outros, dos nossos irmãos. Com efeito, a escolha nunca é isolada da comunidade: ela, porém, é sempre implicativa e determinativa, assumindo contornos de condicionabilidade na acção daqueles que me rodeiam.
Uma resposta livre e positiva a este chamamento traz inevitáveis consequências: a primeira é a de caminhar em direcção à felicidade e à própria realização pessoal; a segunda, e talvez a mais determinante, é a partilha deste dom (ou dons) que recebo. Ninguém desenvolve o seu dom se o enterrar na areia e se não o puser a render! Se eu recebo este dom como sinal indubitável de graciosidade, tenho o dever e a missão de o aplicar e de o reencaminhar no e para o serviço ao próximo, ao irmão, de modo a ser sinal real e vivificante da bondade amorosa e graciosa de Deus. Portanto, este chamamento traz consigo a responsabilidade e a co-responsabilidade, uma vez que o dom remete para o outro e para a partilha.
A vocação corre o risco de ser compreendida de um modo individualista e intimista, e não tanto como um dom, aparecendo como um direito que visa apenas a realização de um projecto pessoal de vida segundo critérios subjectivos e selectivos, e não segundo o critério evangélico de «perder a vida» por Cristo e pelo Reino. A vocação não é uma coisa. Aliás, no hebraico bíblico nem existe a palavra “coisa”. O dom “é dado”, e é precisamente o “ser dado” que constitui o seu ser. O dom remete para os outros, para o Doador e para o seu incondicional amor. Contrariamente, todo o acto de posse é solidão, pois faz-nos viver no meio de objectos. E este é o mundo do “coisismo” e do consumismo. É o mundo da solidão: do super ou do hipermercado.
Eu não sou dono da vocação: eu apenas recebo-a para a partilhar. Este reconhecimento implica, portanto, a desmontagem do nosso mundo de posse, interesse, auto-conservação, auto-realização e auto-satisfação, aquilo a que Levinas chama de «egoísmo alérgico», que no fundo são os nossos egoísmos.
Consciente de que foi escolhido por Deus desde sempre, o indivíduo que é chamado deixa-se envolver na aventura da relação e do amor. O chamado descobre os projectos de Deus, identifica-se com eles e aceita testemunhá-los no mundo. Portanto, o amor é a chave de todas as vocações: o ministério ordenado, a vida consagrada religiosa e secular, e a laical.
Todo o ser humano tem o desejo e necessita de conhecer o sentido da vida e do seu lugar na história. É uma proposta contínua que não acontece apenas uma vez na vida: é uma caminhada. Não é só para jovens, pois o convite do Senhor a segui-Lo dirige-se a todas as idades e a vocação considera-se plenamente realizada apenas no tempo da vida. A terminar, deixo o convite a que todos rezemos com perseverança ao «Senhor da Messe», de modo a suscitar múltiplas e fecundas vocações.

1 comentário:

teresa jacinto disse...

...para que a vida faça sentido… seguir a vocação é mais que uma realização pessoal, é peremptório para construção “um mundo melhor”… fazer a diferença é fazer com vocação…logo com amor e dedicação.