quarta-feira, janeiro 31, 2007

segunda-feira, janeiro 29, 2007

A lição da prostituta

«Nunca as mulheres tiveram tantos recursos para evitar a gravidez. Em matéria de pílulas, dispõem da clássica pílula diária, da pílula do dia seguinte, que se toma como quem chama o 115, e, agora, um cartucho delas para rilhar em dois dias e cujo efeito é o de um autoclismo com descarga no útero.
O dispositivo intra-uterino (DIU) não permite que o óvulo fecundado se fixe nas paredes do útero. O velho e aperfeiçoado preservativo, à disposição em todas as esquinas, anda na carteira com a mesma naturalidade do baton e do espelhinho. O diafragma, colocado no colo do útero, é uma boa partida ao espermatozóide. De tanto marrar, à procura do caminho que a natureza lhe ensinou, acaba por desistri e morrer. Há ainda os cremes vaginais que, além espermicidas, não permitem que o espermatozóide dê à cauda para se deslocar. O aberrante coito interrompido é desagradável, mas resulta…
Com esta e diversa artilharia apontada à gravidez, um feto que consiga escapar é um verdadeiro herói. E como herói deve ser tratado. Não é justo que alguém o expulse do útero a que já se tinha aconchegado para viver. Chega a ser cruel sair dele aos bocadinhos na ponta de uma cureta e amontoado numa cuvete como carne picada.
É de aceitar que uma rapariga, ou mulher, violada possa recorrer ao aborto. É preferível a repulsa de uns minutos à repulsa de uma vida inteira.
Também se aceita o aborto, quando uma série de ecografias afirmam grandes deformidades do feto. Deixá-lo nascer, será condenar uma criança, um adulto e um velho a uma vida de limitações físicas, perturbadoras do carácter e do comportamento psicológico.


Sempre que regresso a este assunto, me lembro da Fifas, uma prostituta muito popular no meu tempo de Coimbra. Oferecia-se no nº 13 do Terreiro de Erva. A certa altura, apareceu grávida. Pelos inconvenientes que uma gravidez trazia à sua profissão, julgou-se que a Fifas iria abortar. De cara um pouco torcida, levou a gravidez até ao fim.
Na maternidade foi partejada pelo Prof. Ibárico Nogueira, assistido pelos quintanistas de seu turno. Eu era um desses quintanistas.
Mas quando foi preciso dar umas palmadas no recém-nascido para o reanimar, a Fifas mudou de expressão e de voz para nos pedir com maior ternura:
- Não batam no meu menino…»
[1].


_______________________________________
[1] Camilo de Araújo Correia (Médico), In, Diário do Minho.

sábado, janeiro 27, 2007

A sociedade censura a morte

Para os homens ‘modernos’, a morte deverá ser a grande ausente e não encontrará espaço no horizonte do pensamento humano: é proibido (ou, na melhor das hipóteses, permitido somente ao homem arcaico) tomar consciência da morte em termos pessoais; somente através da morte-espectáculo, diariamente apresentada pelos media, é que será possível uma eventual tomada de consciência da realidade da morte, embora ela permanece como morte dos “outros”, estranhos, distantes de nós tanto geográfica quanto afectivamente[1].

A vivência da morte na cultura de hoje:
As sociedades do ocidente europeu passaram por um processo de uniformização das suas formas de considerar a morte. A morte, rodeada dum ambiente de mistério, com referência religiosa imediata, sofreu um diluimento social significativo. A atenção social para com a morte desviou-se do registo do «tremendum» e deslocou-se para um espaço de «invisibilidade social»[2].
Resta nos ambientes rurais, a qual persiste em usar a morte para exprimir a radicalidade de certos sentimentos. A solidariedade ocasionada noutros tempos por ocasião da morte, tem hoje a brevidade de um cumprimento formal; a memória do defunto avivada por calendário ritual, recolheu-se ao íntimo dos familiares e amigos.


_____________________________________________
[1] Em relação a este assunto o Papa João Paulo II na Evangelium Vitae, nº 64, diz-nos: «Num tal contexto, torna-se cada vez mais forte a tentação da eutanásia, isto é, de apoderar-se da morte, provocando-a antes do tempo e, deste modo, pondo fim «docemente» à vida própria ou alheia. Na realidade, aquilo que poderia parecer lógico e humano, quando visto em profundidade, apresenta-se absurdo e desumano. Estamos aqui perante um dos sintomas mais alarmantes da «cultura de morte» que avança sobretudo nas sociedades do bem-estar, caracterizadas por uma mentalidade eficientista que faz aparecer demasiadamente gravoso e insuportável o número crescente das pessoas idosas e debilitadas. Com muita frequência, estas acabam por ser isoladas da família e da sociedade, organizada quase exclusivamente sobre a base de critérios de eficiência produtiva, segundo os quais uma vida irremediavelmente incapaz não tem mais qualquer valor».
[2] CUNHA, Jorge Teixeira da – Bioética Breve, Ed. Paulus, Apelação, 2002, p. 102.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Será ou não a eutanásia uma forma de homicídio consentido?

A eutanásia é sempre matar outra pessoa, com ou sem consentimento, por motivos de compaixão ou para lhes evitar dores ou situações dramáticas. No Código Penal Português a eutanásia activa (uma vez que a eutanásia por omissão não é geralmente punida) constitui o crime de homicídio privilegiado punível com a pena de 1 a 5 anos de prisão[1].
Sendo assim, não é legítima a decisão de uma pessoa dispor da sua própria vida? Nós respondemos não. Na conservação da vida humana existem por vezes interesses individuais e sociais. Nenhum ser humano é uma realidade isolada, fonte autónoma e exclusiva de direitos e obrigações. Todos somos solidários pela mútua interacção entre pais e filhos, entre cada um e o resto da sociedade. Por isso, ninguém tem o direito de eliminar uma vida, mesmo a própria. Assim o entendeu a tradição jurídica ocidental, que negou toda a validez ao consentimento prestado para causar a morte, considerando o direito à vida como indisponível, ou seja, como um «direito-dever»[2].

__________________________________________
[1] Código Penal, art. 133.º.
[2] Como escreve M. Maia Gonçalves, «a vida humana é um bem indisponível mesmo para o ofendido; é justamente o bem jurídico de maior valoração» (Código Penal Português, 5º Edição, p. 343)

Para reflectir profundamente

IST(-BD): fim ou re-começo?


Uma leitura mais atenta dos acontecimentos, obras e palavras, que recentemente se vem intensificando sobre o fim do Instituto Superior de Teologia (IST), leva-nos a enunciar pré-conceitos e pseudo-verdades sobre o seu fim real. Haverá ainda janelas abertas que possam deixar entrar uma nova lufada de ar puro, um novo renascimento que possibilite o seu revivescer?
Recentemente tem-se questionado se os seminários, estando ou não alienados da formação intelectual (o mesmo é dizer: do ensino universitário) dos seus seminaristas, têm posto em causa a quebra de um dos quatro pilares da formação integral do crescimento humano. Em causa está a dimensão espiritual.

Por outro lado, no que concerne à comunhão questiona-se sobre a existência ou não desta na nossa pequena comunidade que por si é tão diversificada culturalmente. Neste sentido, é impossível falarmos de comunhão no verdadeiro e pleno sentido. Há, de facto, comunhão e comunidade de modo parcial. Aliás, há o partilhar de certos e determinados actos ditos comunitários.
Será que a criação de um seminário inter-diocesano poderá responder plenamente às exigências pastorais, intelectuais, espirituais e humanas, que as dioceses a ele inserido tanto esperam? Parece-me que estamos a caminhar de olhos vendados. Não há uma luz, não há uma referência! A nossa única referencia é Jesus Cristo. É a partir d’Ele que tudo deve ser realizado e para onde tudo se encaminhará. Já Paulo no diz na sua Epístola a Timóteo
[1].
Será preferível caminhar num “caminho de cabras” ou numa auto-estrada? Embora cada um deles conduzam a um objectivo comum, devemos sempre optar pelo segundo. Não só pela rapidez a que se chega ao objectivo, como possibilita ao caminhante novas visões, novos horizontes, novas perspectivas. Resta saber se um seminário inter-diocesano conseguirá responder às exigências formativas agora exigidas. Aliás, não unicamente para este tempo, mas com perspectivas futuras. Pois, uma formação que se dirige unicamente para este presente será posteriormente um passado. Portanto, toda a formação deve verter para o futuro, de modo a que este futuro se torne posteriormente presente.
Penso seriamente que este será o primeiro grande passo, o pano de fundo, para uma reforma que todos nós ansiamos. A vida celular do seminarista deve ser sempre Cristo. Por outras palavras: a célula vital e vivificante daqueles que o Senhor chamou é sempre o Amor do Chamante. É sempre Ele o início e o fim que todo o chamado por Ele, ou seja, o vocacionado anseia ardentemente.

______________________________________________
[1] «1É digna de fé esta palavra: se alguém aspira ao episcopado, deseja um excelente ofício. 2Mas é necessário que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio, ponderado, de bons costumes, hospitaleiro, capaz de ensinar; 3que não seja dado ao vinho, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado; 4que governe bem a própria casa, mantendo os filhos submissos, com toda a dignidade. 5Pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará ele da igreja de Deus? 6Que não seja neófito, para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação do diabo. 7Mas é necessário também que ele goze de boa reputação entre os de fora, para não cair no descrédito e nas ciladas do diabo».

domingo, janeiro 21, 2007

EUTANÁSIA:
Pertinência ou des-pertinência?
Embora não seja hodiernamente um tema que esteja muito em voga, creio que, dentro em breve, será uma temática de grande discussão na sociedade portuguesa. A questão do “aborto” está a ser como que a porta para a revitalização desta problemática. Uma pseudo-vitória do “sim” no referendo em questão terá nefrálgicas consequências. Será como que o início de um choque em “cadeia” ou choque “dominó”. O ludibriar das débeis consciências do povo português terá repercussões altamente prejudiciais para as gerações vindouras. É que com isto diversas realidades serão marginalizados da sua verdadeira essência (como por exemplo: a família; o ser pai; o ser mãe; enfim… um inumerável de outras realidades afins). Os países nórdicos (como a Alemanha, ou a Inglaterra, ou a Suiça, ou a Suécia, etc.), sofredores deste maligno, procuram meios que possibilitem, de algum modo, contrariar os efeitos negativos das práticas transactas.
A eutanásia, denominada como morte suave, não é uma realidade nova ao pensamento humana. Já há muito que a eugenia se vem proliferando numa cultura que se diz evolucionista, mas que, no entanto, não é mais do que uma simples «cultura da morte», tal como nos afirma o falecido Papa João Paulo II. A proliferação da extrema-direita deve-se em grande parte à grande adesão, embora muitas vezes inconsciente por parte dos seus receptores, de praticismo (isto é, ao por em prática) da eugenia.
Por outro lado, a difusão de uma pseudo-aceitação da prática da eutanásia assume contornos predominantemente casuísticos. E neste aspecto os mass media tem contribuído e de que maneira para esta alienação da consciente dos seus receptores. Denota-se claramente uma disjunção da consciencialização do imperativo da vida humana.
Com efeito, a vida, mais que um dever, é um direito de todo e qualquer ser ôntico, seja ele rico ou pobre, de “cor” ou não, novo ou velho. Antes de qualquer direito, seja ele canónico ou até civil, está o direito natural. O direito natural é o sustentáculo de ambos e de qualquer que seja o direito. Pois, um direito que negligencie o seu substrato perde a finalidade para que é criado. O direito é feito para servir dignamente o homem. Portanto, não é o homem que está ao serviço da lei, mas o contrário.Nesse sentido, é um dever de todo e qualquer cristão chamar à consciência do outro para o imperativo da vida humana e da sua dignidade. Uma vida acariciada desde o princípio gerativo e criador de Deus Uno-Trino. Não de um Algo, mas um Alguém.

sábado, janeiro 13, 2007

Brevemente neste Blog uma reflexao séria e profunda dum tema que dentro em breve surgirá na nossa sociedade: EUTANÁSIA.
Ficai vigilantes...